Descrição
CD Romã lançamento de 2019 de Jaime Santos & Os Santos de Casa!
O CD Romã,sua opera prima, é, assim, o resultado de anos de aprendizado. É, pois, o momento definitivo e decisivo quando o aprendiz se revela mestre para quantos tenham ouvidos para ouvir. Dizem que é preciso viajar para contar histórias. Pois Jaime andou pelo Brasil, e em Romã nos apresenta boa parte das sonoridades e temáticas que atravessam o país: do litoral ao interior, da intensão nordestina ao sul urbano, passando pelo sudeste, a transversalidade é sem dúvida a marca destacada desse trabalho. Romã reconhece, inventaria, sublima e apresenta em sons e palavras o Brasil que amamos.
Com harmonias elaboradas e melodias contagiantes, as músicas seguem a trilha da melhor cepa da nossa magnífica MPB, enquanto as letras (do próprio Jaime ou de seus parceiros) nos enlevam e surpreendem a cada momento com a sonoridade e o sentido que as palavras tomam no contexto único da canção.
Muito se pode dizer sobre esse fluir inspirado de palavras sonoras, mas alguns versos representativos nos serão de momento suficientes: “O movimento da rua / Já se faz ver / E o silêncio lá fora quer morrer” (A cor do dia); “Fruta boa e saborosa / Que me olhando quer” (Romã); “Se amar faz parte de mim / O mar é o princípio e o fim” (Cais do porto); “O coração bate, para / Depois escuta conversa de bois / O boi Cala-Boca reclama do patrão / O homem nunca foi mais forte do que o boi (Conversa de bois); “Alinhados nossos faróis / Espero de ti um sinal / Os navios, nossos portos / Já passou o temporal (Faróis); “A gente tece de luz e sombra / Veredas de se perder” (Óleo sobre tela).
Esses versos (e há outros de igual valor), já em si mesmos de grande expressividade artística, ganham um sentido sublime quando cantados – e é justamente esta, já o dissemos, a arte da canção.
Poderíamos seguir falando de Jaime e seu trabalho por horas, mas, como escreveu Caetano Veloso, “a canção tem que acabar”. Não podemos, porém, acabá-la sem mencionar um dos trechos poéticos que julgamos de grande destaque no CD Romã:
Ela me espera, seu desassossego
Eu não tenho hora
Tempero o anseio
Quando chego pelo meio
(Quem és)
Compreende-se que a espera inquieta, desassossegada por alguém que, por razões não especificadas, não tem hora para voltar, essa espera ansiosa é temperada (entenda-se: é modelada, ajustada ou, se se quiser, “afinada” como se fosse um instrumento) pelo próprio eu-lírico, que, afinal, chega pelo meio, isto é, quando, embora o esperassem, não sabiam que chegava justo naquele momento.
Pois te esperávamos, Jaime, e mui desassossegados. Sem hora certa de vir e tendo, por isso, temperado nosso anseio, chegas finalmente com Romã e nos atinges bem no meio. Em cheio!
Conrado Abreu chagas
Professor de Literatura e músico
Mestre em Estudos da Linguagem